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09/11/2019
O escravo do confessionário
Disse Graphin, o demônio que atormentava o Cura de Ars: se tivesse apenas três como tu, meu reino já estaria perdido.


Nem os Cartuxos se atrevem a imitar as penitências do Cura d'Ars

 


Na antiga casa paroquial de Ars conservam-se como troféu de vitória as disciplinas e os cilícios do Cura d'Ars, o P. João Maria Vianney. Mas o seu principal instrumento de penitência não está ali; deixaram-no na igreja: é o confessionário.

Pode-se dizer que o servo de Deus ali se crucificou livremente. Foi 'um mártir da confissão', conforme as palavras de uma testemunha de sua vida. Bem poderia ter fugido dos pecadores, se retirado para um claustro ou para o deserto, mas por amor às almas permaneceu no seu posto. Ele, que passara a juventude no meio dos campos, respirando o ar puro das montanhas da terra natal, nos dias em que o tempo aprazível convida a passear, permanecia naquela caixa, prisioneiro dos pecadores! Coração delicado e sensível, amigo das belezas naturais, percorrera em tempos idos o risonho vale de Fontblin, onde farfalhavam as faias.
 
Estava separado disso tudo apenas por algumas casas e pelos muros da sua igreja. Entretanto, por trinta anos, privou-se voluntariamente de gozar da frescura, do encanto e das tranquilas alamedas!
 
Algumas horas de confessionário bastam para alquebrar o sacerdote mais robusto. Sai-se dele com os membros entumecidos, a cabeça congestionada e incapaz de fixar um pensamento. Perde-se o sono e o apetite, e a quem quiser passar, todos os dias, longas horas assentado, faltar-lhe-ão as forças. Pois bem, conforme escreveu a condessa de Garets, o Cura d'Ars impôs-se um trabalho que extenuaria seis confessores. 'Eis, diz o Pe. Raymond, que o viu exercer este ministério, eis o que sempre me pareceu milagroso e superior às forças humanas: Que um sacerdote tão achacado e dum regime tão austero pudesse, de qualquer maneira, passar a vida no confessionário!... A minha saúde, graças a Deus, é excelente, contudo, confesso que me seria impossível suportar aquele modo de vida durante uma semana, e o mesmo ouvi dizer por outros sacerdotes acostumados a confessar em peregrinações'.
 
Sim; foi ali entre aquelas tábuas, naquele ataúde antecipado, onde o Cura d'Ars mais teve que sofrer. No Verão, a igreja era como um forno. O calor no confessionário, como ele mesmo dizia, dava-lhe uma ideia do inferno. Algumas vezes tinha que ouvir confissões com compressas na fronte, a tal ponto o torturavam as enxaquecas. Era por este motivo que trazia o cabelo muito curto na parte anterior da cabeça. Nos dias de tempestade ou de forte calor, o ar estava tão viciado na estreita nave do templo que o heróico confessor sentia náuseas e não as podia evitar, a não ser aspirando um vidro de vinagre ou de água de colónia. No Inverno, pelo contrário, naquela região de Dombes, sobretudo quando sopra o vento dos Alpes, até as pedras se fendem. Muitas vezes, refere o P. Dubouis, desmaiou no confessionário, ora por causa do frio, ora por causa das suas enfermidades. Perguntei-lhe uma ocasião: 'Como pode V. Revma estar tantas horas assim num tempo tão cruel, sem nada para lhe aquecer os pés?'
 
-- 'Ah! meu amigo, é por uma razão muito simples: Desde Todos os Santos até a Páscoa não sinto que tenho pés'.
 
O cónego Aleixo Tailhades, de Montpellier, que passou com ele parte do Inverno de 1838, conta que 'os pés do pobre Cura se achavam tão lastimados que a pele dos calcanhares saía com as meias quando à noite se descalçava'. Para atenuar a dureza da tábua em que se assentava, experimentaram colocar sobre ela umas almofadas de palha. Ele rejeitou-as. (...)
 
A assiduidade do P. Vianney no confessionário e os sofrimentos que nele suportava teriam bastado para fazê-lo alcançar um grau de alta santidade. Mas procurando as mortificações com o mesmo ardor com que outros buscam os prazeres, jamais estava saciado de penitência. Impôs-se o sacrifício de nunca olhar para uma flor, de não comer frutas e de não tomar uma gota de água em dias de grande calor. Jamais espantava as moscas que lhe pousavam na fronte. Permanecia ajoelhado sem apoio algum. Impusera-se a lei de nunca manifestar os desgostos e de ocultar todas as repugnâncias da natureza. Dominava a curiosidade ainda a mais legítima: nem sequer manifestou o desejo de ver a estrada de ferro que passava a poucos quilómetros de Ars, e que cada dia trazia para ele tão grande número de peregrinos.
 
O seu coração estava sem pecado, e contudo, jejuou durante 40 anos jejuou e flagelou-se pelos pecadores. Vimo-lo no princípio do seu apostolado como tomava sangrentas disciplinas para obter de Deus a conversão dos seus paroquianos. Quando estes se converteram, não deixou, apesar disso, que os seus instrumentos de penitência se enferrujassem. A diminuição das forças obrigou-o a servir-se menos deles e a tratar com menos crueldade o seu cadáver. Algumas vezes teve que fazer intervalos entre as flagelações e deixar que as feridas cicatrizassem para poder novamente flagelar-se. (...)
 
Trazia em cada braço um bracelete de ferro eriçado de pontas agudas. 'Pela rigidez dos seus movimentos e pela maneira como se movia, no púlpito e no altar, era fácil ver, diz a senhora de Garets, que estava coberto de cilícios e de outros instrumentos de penitência'. Uma vez o cilício provocou-lhe uma ferida que causou inquietação pelo perigo da gangrena.
 
Tais mortificações debilitavam-no ainda mais. Como poderia este sacerdote manter-se em pé quando vivia daquilo que a outros faria morrer? Depois das suas 'loucuras da juventude', daqueles jejuns completos de dois ou três dias, que a princípio se impunha, resignar-se-ia, em vista da sua debilidade e do seu trabalho, a tomar o alimento necessário? (...) 
 
Pura ilusão! Consentiu em comer todos os dias era contudo muito pouca coisa. O jejum, até então nunca interrompido, continuou da mesma maneira. De ordinário, ao meio-dia, entrava na cozinha do orfanato, e ali num canto do fogão esperava-o uma tigela de leite ou sopa. Quase nunca chegava a saborear a comida. Às vezes, além da sopa, comia alguns gramas de pão torrado. Durante muito tempo não tomava nada durante manhã. Em 1834, estando muito fraco, foi obrigado por Mons. Devie a tomar um quebra-jejum. Desde então, depois da Missa, sorvia um pouco de leite, mas nos dias de jejum nem disso se servia.
 
Nas Quaresmas de 1849, 1850 e 1851, diz o Irmão Atanásio que ele comia só uma vez por dia. Foi visto aceitar algumas vezes um pouco de sobremesa, ou seja, um pouco de doce; mas nos últimos anos também disso se absteve. Até à sua grave doença de 1843, nunca tomava nada à noite. (...)
 
Quinhentos gramas de pão duravam mais de uma semana. 'Vi um dia no seu aposento, refere o Sr. Camilo Monnin, um pãozinho com aparentes sinais de ter sido roído por um rato; de facto, era um pedaço de pão que o servo de Deus havia tomado para alimentar-se durante uma grande parte do dia'. (...)
 
'Para chegar a essa sobriedade excessiva ter-lhe-ia custado horrivelmente'. Assim se expressou o conde de Garets, testemunha emocionante de uma existência totalmente mortificada.
 
E se para apreciar o Cura d'Ars penitente é mister ouvir um especialista em matéria de penitência, eis aqui um padre da Grande Cartuxa: 'Vemo-nos obrigados a confessar, nós os solitários eremitas, monges e penitentes de toda a classe, que não nos atrevemos a seguir o Cura d'Ars senão com o olhar de nossa afectuosa admiração, e que não somos dignos de beijar os seus pés, nem a poeira dos seus sapatos.'''
 
Francis Trochu in 'O Santo Cura d'Ars' (Edit. Líttera Maciel, 1997, pp. 334-337)

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OBS > Completando a frase inicial, eu fiz as contas, se hoje, houvesse entre os 410 mil sacerdotes, bispos e cardeias, apenas 33 novos Cura de Ars, poderíamos aposentar nossos Rosários, porque eles sozinhos venceriam Lúcifer e todos os seres infernais. O que vemos hoje é exatamente a antítese do Cura: milhares deles fogem do confessionário. E há os que mentem dizendo que pecado não existe, ou minimizam até pecados gravíssimos. E há os que se negam a confessar! A pena destes será absurda, porque pagarão por todos os pecados dos outros não perdoados por sua culpa. E quanto a aquele que não conseguiu se confessar por causa do padre, este desejo certamente lhe dá a graça do perdão divino. Mas o padre irá pagar!

Na realidade, a imensa maioria das pessoas, mesmo dentre as raras que ainda se confessam, não sabe confessar bem, quem sabe nem eu o faça bem, e até os padres nem sabem. Muitos vão ao confessionário para se justificar, ou acusar outros de suas faltas. E o confessionário não é divã de psicanalista é sim, um TRIBUNAL de justiça! 

Falando em confissão, eu tive um sonho recentemente, que me parece muito sugestivo, e deveria servir de modelo para todos os sacerdotes, para confissões rápidas e eficazes. Já disse ao nosso pároco que na próxima confissão vou contar a ele, e penso que se alguém puder consultar um padre ou um bispo sobre o que vi no sonho, seria bom. Acho que Jesus aprovaria este método... Vi assim...

Nesta noite de 14/10/19 tive o seguinte sonho: eu me achava nos fundos do que parecia ser uma catedral, cheia de colunas altas e havia ali nossos dois padres confessando, e longas filas diante de cada um. De repente uma voz de mulher me disse: mas você também pode ajudar a confessar as pessoas.

Claro que, não sendo sacerdote eu não podia isso, mas no sonho eu não titubeei, sinal de que deveria ter uma lição para isso, e disse apenas: mas eu preciso de uma estola: logo me deram uma. Eu me sentei numa cadeira, num dos cantos do fundo da catedral, e as pessoas vieram em fila. O primeiro que atendi foi o menino X, conhecido meu, e depois de muitos e muitos outros, alguns conhecidos dos quais me esqueci quem eram e a última que atendi foi a senhora X, que reza conosco o Terço das quarta-feira. Lembro só destes dois... Mas foram muitos os que atendi.

No início eu não sabia como fazer para agilizar os atendimentos, mas tinha na mente sempre os métodos do Padre Pio e do Cura de Ars, e logo entendi que NINGUÉM sabia se confessar. Nos primeiros casos eu atendi mais ou menos, porém aos poucos eu fui mudando. Sabia que a maior parte das pessoas na verdade tem muitos pecados leves e alguns graves. E milhares os esquecem ou acham que não é pecado. Fui então, aos poucos desenvolvendo um método que me pareceu legal, rápido e eficiente. Quando as pessoas queriam me contar histórias ou envolver outros em seus pecados eu cortava de imediato, e lhes dizia: quero saber apenas o que você fez, não os outros.

Não me lembro de muitas situações, mas algumas foram assim: Eu dizia para a pessoa: sei que você, como eu, comete muitos pecados. Sei também que você vai esquecer de me contar alguns e até esconder outros, o que invalidaria a sua confissão. Então vamos fazer o seguinte: Perguntei a um jovem, qual o pecado que mais estava lhe incomodando, aquele que o Espirito Santo mais lhe chamava a atenção na consciência> O jovem disse: eu menti para minha mãe! 

Então lhe perguntei: e tu estás realmente arrependido deste pecado? Prometes lutar para nunca mais mentir? Ao sei SIM eu lhe disse: pois então eu vou te absolver de todos os teus pecados, mas como penitência você vai para sua mãe, dizer a ela que você mentiu, que está arrependido e vai pedir perdão a ela. Se não fizer isso sua confissão será inválida, está bem? E o absolvia... Pensei: se ele realmente está arrependido deste, Deus considera que também dos outros se arrependeu. E acredito que isso inclusive o livraria do Purgatório, de todas as faltas não contadas.

Para uma mulher que começou a falar do marido e o culpar eu disse: você tem certeza de que tratou bem do seu esposo, como é seu dever de juramento, o amou de fato e fez tudo o que podia para ele ser feliz? Ela disse que não tinha! Pois este é seu maior pecado... Eu lhe disse então: eu vou te absolver de todos os outros pecados, lembrados e esquecidos, mas como penitência você vai para casa e peça perdão para o seu marido, de tudo o que jurou, mas deixou de fazer para ele, que se arrependeu e promete mudar de vida, e se não fizer isso sua confissão será inválida. E a absolvi...E tudo fluia rapidamente. Nada de contar histórias ou fazer longas perorações...

Eram situações assim, e estas duas servem de exemplo. Eu pedia sempre o maior pecado que a pessoa tinha feito, o que mais lhe acusava a consciência, um só, perguntava se estava realmente arrependida, se prometia não mais fazer aquilo, mostrava a forma de ela reparar o dano causado por ela e que deveria pedir perdão ao lesado. Dava isso como penitência. Fiquei ali até a fila ter esgotado, mas não lembro de ter entregue a estola…

Ao confessionário, povo de Deus! Fecha-se a porta da misericórdia, já desce o Braço do Juiz Eterno! (Aarão)

 

 

 

 

 
 

 


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