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O Papa
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31/05/2006
Homilia em Varsóvia


O Papa - 12 Homilia em Varsóvia
O Papa - 12 Homilia em Varsóvia

Homilia de Bento XVI ao celebrar a missa em Varsóvia:
VARSÓVIA, sexta-feira, 26 de maio de 2006 (ZENIT.org).- Homilia que Bento XVI pronunciou nesta sexta-feira na celebração eucarística na Praça Pilsudski, em Varsóvia.


Seja louvado Jesus Cristo!
Queridos irmãos e irmãs em Cristo Senhor: «Junto convosco desejo elevar um canto de gratidão à Divina Providência, que me permite hoje estar aqui como peregrino». Com estas palavras, há 27 anos, começou sua homilia em Varsóvia meu querido predecessor, João Paulo II. Faço minhas essas palavras e dou graças ao Senhor que me concedeu poder chegar hoje a esta histórica Praça. Aqui, na vigília de Pentecostes, João Paulo II pronunciava as significativas palavras da oração: «Que desça teu Espírito e renove a face da terra». E acrescentou, «Desta terra!». Neste mesmo lugar o povo se despediu, em uma solene cerimônia fúnebre, do grande primaz da Polônia, o cardeal Stefan Wyszynski, de quem nestes dias recordamos o vigésimo quinto aniversário de sua morte.

Deus uniu estas duas pessoas não só mediante a mesma fé, a mesma esperança e o mesmo amor, mas também mediante as mesmas vivências humanas, que uniram ambos intimamente com a história deste povo e da Igreja que vive nele.

Ao início de seu pontificado, João Paulo II escreveu ao cardeal Wyszynski: «Na Sede de Pedro não estaria este Papa polonês, que hoje, cheio de temor a Deus, mas também de confiança, começa o novo pontificado, sem tua fé, que não se esvaiu ante a prisão e o sofrimento, sem tua heróica esperança, sem tua confiança até o fim na Mãe da Igreja; sem Jasna Gora e sem todo este período de história da Igreja em nossa Pátria, ligado a teu serviço de bispo e de primaz» (Carta de João Paulo II aos poloneses, 23 de outubro de 1978).
 
Como não dar graças a Deus pelo que sucedeu em vossa pátria, no mundo inteiro, durante o pontificado de João Paulo II? Ante nossos olhos aconteceram mudanças de inteiros sistemas políticos, econômicos e sociais. As pessoas de vários países reconquistaram a liberdade e o sentido da dignidade. «Não esqueçamos as grandes obras de Deus» (Cf. Salmo 78, 7). Eu também vos agradeço por vossa presença e por vossa oração. Obrigado ao cardeal primaz pelas palavras que me dirigiu. Saúdo todos os bispos aqui presentes. Alegra-me ver a participação do senhor presidente e das autoridades públicas e locais. Abraço com o coração todos os poloneses que vivem na pátria e no exterior.

«Permanecei firmes na fé!». Acabamos de escutar as palavras de Jesus: «Se me amais, guardareis meus mandamentos; e eu pedirei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que esteja convosco para sempre, o Espírito da verdade» (João 14, 15-17a). Com estas palavras, Jesus revela o profundo laço que existe entre a fé e a profissão da Verdade Divina, entre a fé e a entrega a Jesus Cristo no amor, entre a fé e a prática de uma vida inspirada nos mandamentos. Estas três dimensões da fé são fruto da ação do Espírito Santo. Esta ação manifesta-se como força interior que põe em harmonia os corações dos discípulos com o Coração de Cristo e os faz capazes de amar os irmãos como Ele os amou. A fé é um dom, mas ao mesmo tempo é uma tarefa.

«Ele nos dará outro Consolador – o Espírito da Verdade». A fé, como conhecimento e profissão da verdade sobre Deus e sobre o homem, «vem da pregação, e a pregação, pela Palavra de Cristo», diz São Paulo (Romanos 10, 17). Ao longo da história da Igreja, os apóstolos pregaram a palavra, preocupando-se por entregá-la intacta a seus sucessores, que por sua vez a transmit
iram às gerações sucessivas, até nossos dias. Muitos pregadores do Evangelho deram a vida precisamente por causa da fidelidade à verdade da palavra de Cristo. Deste modo, do cuidado da verdade nasceu a Tradição da Igreja.
 
Como nos séculos passados, também hoje há pessoas ou ambientes que, descuidando desta Tradição de séculos, querem falsificar a palavra de Cristo e tirar do Evangelho as verdades que, segundo eles, são demasiado incômodas para o mundo moderno. Trata-se de dar a impressão de que tudo é relativo: inclusive as verdades de fé dependeriam da situação histórica e do juízo humano. Mas a Igreja não pode calar o Espírito da Verdade. Os sucessores dos apóstolos, junto com o Papa, são os responsáveis pela verdade do Evangelho, e também todos os cristãos estão chamados a compartilhar esta responsabilidade, aceitando suas indicações autorizadas.
 
Todo cristão está obrigado a confrontar continuamente suas próprias convicções com os ditames do Evangelho e da Tradição da Igreja em seu compromisso por permanecer fiel à palavra de Cristo, inclusive quando esta é exigente e humanamente difícil de compreender. Não temos de cair na tentação do relativismo ou da interpretação subjetiva e seletiva das Sagradas Escrituras. Só a verdade íntegra pode-no abrir à adesão a Cristo, morto e ressuscitado por nossa salvação.

De fato, Cristo diz: «Se me amais...». A fé não significa só aceitar um certo número de verdades abstratas sobre os mistérios de Deus, do homem, da vida e da morte, das realidades futuras. A fé consiste em uma relação íntima com Cristo, uma relação baseada no amor daquele que nos amou antes (Cf. 1 João 4, 11), até a entrega total de si mesmo. «A prova de que Deus nos ama é que Cristo, sendo nós ainda pecadores, morreu por nós» (Romanos 5, 8). Que outra resposta podemos dar a um amor tão grande, a não ser um coração aberto e disposto a amar? Mas o que quer dizer amar a Cristo? Quer dizer fiar-se dele, inclusive na hora da prova, segui-lo fielmente inclusive na Via Crucis, com a esperança de que logo chegará a manhã da ressurreição.
 
Se confiamos nele não perdemos nada, mas ganhamos tudo. Nossa vida adquire em suas mãos seu verdadeiro sentido. O amor por Cristo se expressa com a vontade de pôr em sintonia a própria vida com os pensamentos e os sentimentos de seu Coração. Isto se consegue mediante a união interior, baseada na graça dos Sacramentos, reforçada com a oração contínua, com o louvor, com a ação de graças e a penitência. Não pode faltar uma atenta escuta das inspirações que Ele suscita através de sua Palavra, através das pessoas com as quais nos encontramos, das situações de vida de todos os dias. Amá-lo quer dizer permanecer em diálogo com Ele, para conhecer sua vontade e realizá-la prontamente.

Mas viver a própria fé como relação de amor com Cristo significa estar dispostos a renunciar a tudo o que constitui a negação de seu amor. Por este motivo, Jesus disse aos apóstolos: «Se me amais guardareis meus mandamentos». Mas, quais são os mandamentos de Cristo? Quando o Senhor Jesus ensinava as multidões, não deixou de confirmar a lei que o Criador havia inscrito no coração do homem e que havia formulado nas tábuas dos Dez Mandamentos. «Não penseis que vim para abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar cumprimento. Sim, asseguro-vos: o céu e a terra passarão antes que passe um “i” ou um acento da Lei sem que tudo suceda» (Mateus 5, 17-18).
 
Agora, Jesus mostrou-nos com nova clareza o centro unificador das leis divinas reveladas no Sinai, ou seja, o amor a Deus e ao próximo: «amar [a Deus] com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios» (Marcos 12, 33). E mais, Jesus em sua vida e em seu mistério pascal levou a cumprimento toda a lei. Unindo-se a nós através do dom do Espírito Santo, leva conosco e em nós o «jugo» da lei, e deste modo se converte em uma «carga leve» (Mateus 11, 30).
 
Com este espírito, Jesus formulou a lista das atitude
s interiores de quem trata de viver profundamente a fé: Bem-aventurado os pobres de espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que trabalham pela paz, os perseguidos por causa da justiça... (Cf. Mateus 5, 3-12).

Queridos irmãos e irmãs, a fé enquanto adesão a Cristo revela-se como amor que impulsiona a promover o bem que o Criador inscreveu na natureza de cada um e cada uma de nós, na personalidade de todo ser humano e em tudo o que existe no mundo. Quem crê e ama converte-se deste modo em construtor da verdadeira «civilização do amor», na qual Cristo é o centro. Há 27 anos, neste lugar, João Paulo II disse: «A Polônia se converteu em nossos tempos em terra de testemunho especialmente responsável» (Varsóvia, 2 de junho de 1979).
 
Peço-vos, cultivai este rico patrimônio de fé que vos transmitiram as gerações precedentes, o patrimônio do pensamento e do serviço desse grande polonês, o Papa João Paulo II. Sede fortes na fé, transmiti-la a vossos filhos, daí testemunho da graça que haveis experimentado de um modo tão abundante através do Espírito Santo em vossa história. Que Maria, Rainha da Polônia, mostre-vos o caminho para seu Filho e vos acompanhe no caminho para um futuro feliz e cheio de paz. Que não falte nunca em vossos corações o amor por Cristo e por sua Igreja. Amém!

[Traduzido por Zenit]



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