Igreja pós-Vaticano II: é preciso restaurar o equilíbrio entre vertical e horizontal
A nossa vida de fé deve imitar a cruz: com um traço horizontal nos ligando ao próximo e um traço vertical nos ligando ao céu
Pe. Dwight Longenecker
Não faz muito tempo, participei de uma missão pastoral numa paróquia cuja igreja tinha um estilo arquitetônico moderno.
Fui recebido com grande gentileza e afabilidade, e as pessoas estavam ansiosas para ouvir mais sobre a fé. Tudo foi simples e informal, mas caloroso e focado nas pessoas. No fim de semana seguinte, a missão pastoral me levou a uma das nossas catedrais históricas. A experiência, assim como o edifício, não poderia ter sido mais diferente.
A catedral continha belíssimas obras de arte. A música era edificante e solene. A arquitetura ascendente e o teto abobadado chamavam os olhos e o coração para o alto. A melhor maneira de descrever a experiência da catedral é que ela era vertical, enquanto o traçado moderno da igreja da semana anterior era horizontal. Tudo na catedral me levantava rumo ao céu. Tudo na outra igreja voltava o meu coração e a minha mente às pessoas ali presentes.
Esse embate entre o vertical e o horizontal no catolicismo vai além dos edifícios de culto.
Após o Concílio Vaticano II, houve uma real tentativa, por parte de teólogos e liturgistas, de “democratizar” a fé católica e torná-la mais “amigável” às pessoas.
Junto com a celebração da liturgia nas línguas vernáculas, o sacerdote passou a olhar para o povo e, em muitas igrejas, adotou-se um arranjo circular ou semicircular dos fiéis em torno do altar. A construção da igreja e da liturgia passou a refletir mais a refeição compartilhada pela família de Deus do que o sacrifício sagrado da Missa, oferecido pelo sacerdote em nome do povo. A música moderna que se desenvolveu nas comunidades católicas tende a se concentrar mais na família de Deus e na sua missão de mudar o mundo do que na adoração e no louvor oferecido a Deus. A experiência católica se tornou horizontal e, muitas vezes, o vertical não foi só esquecido: foi propositalmente deixado de fora.
Agora, cinquenta anos após a revolução do Vaticano II, muitas comunidades católicas estão restabelecendo algum equilíbrio e reavaliando as prioridades da sua vida.
Elas estão descobrindo que tanto o vertical quanto o horizontal são necessários para a vida católica. Aliás, o vertical e o horizontal são intrinsecamente unidos quando adequadamente ordenados.
A melhor maneira de entendê-lo é pensar de novo nos dois grandes mandamentos: amar a Deus e amar o próximo.
Quando questionado sobre os mandamentos, Jesus respondeu que o primeiro mandamento é amar a Deus de todo o teu coração, mente e alma e o segundo é amar o próximo como a nós mesmos (cf. Mateus 22, 38-39). Com este ensinamento, Jesus afirmou não só que a relação vertical com Deus e a relação horizontal com o próximo são ambas necessárias, mas também estabeleceu uma prioridade.
Amar a Deus vem em primeiro lugar: portanto, o vertical é mais importante. Adorar a Deus e aprender a amá-lo é a nossa primeira tarefa. É desse amor divino que aprendemos a amar de verdade o nosso próximo. Os dois mandamentos estão ligadas como os dois traços da cruz. O traço vertical se estende da terra ao céu e nos lembra do primeiro mandamento. O traço horizontal se afirma no vertical e nos lembra a necessidade de chegar aos outros.
A maioria dos problemas no catolicismo vivido atualmente surge do desequilíbrio entre o vertical e o horizontal. Quando os católicos ficam tão envolvidos em questões de ideologia, de paz e justiça a ponto de se identificarem primeiro com uma orientação política do que com a fé propriamente dita, eles estão enfatizando o suposto amor horizontal ao próximo a ponto de excluírem ou denegrirem o amor vertical de Deus.
Da mesma forma, quando um católico foca tanto nas intenções de adoração, liturgia e oração a ponto de negligenciar as obras de misericórdia corporais, ele acaba negando, na prática, o amor a Deus que se atribui na teoria.
O equilíbrio precisa ser restaurado. O amor vertical de Deus é plenificado pelo amor horizontal do próximo, e o amor horizontal do próximo é inspirado e consolidado pelo amor vertical de Deus.
Nas minhas missões paroquiais, procuro lembrar às pessoas estas verdades: somos todos chamados a pegar a nossa cruz e seguir a Cristo. Quando fazemos o sinal-da-cruz, temos que nos lembrar de que a própria cruz nos ensina a importância do vertical e do horizontal – e de que temos de olhar primeiro para cima, para o amor de Deus, e depois para a direita e para esquerda, para o amor de Deus pelo nosso próximo.Fonte:http://pt.aleteia.org/
OBS > O mesmo desequilíbrio se dá hoje no Vaticano. Jesus fundou uma só Igreja, e sob um só Pedro e sempre foi assim. Mas hoje temos um que se diz Pedro, mas trata apenas da questão horizontal, a que abraça o mundo, e outro Pedro que mantém, porque nunca o perdeu, pois é vitalício, o comando vertical, aquele que liga com Deus, exatamente o mais importante. Ou seja: somente quem é cego ou conivente não percebe que este não é o desejo de Jesus.